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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A Culpa sempre é do outro!

Zibia Gasparetto escreveu: “Se você é infeliz no amor, preste atenção no que está fazendo em sua vida. Identifique os papéis que tem assumido e reconheça que você não é nada daquilo. Descobrir como você é, do que gosta é a chave para obter felicidade.”

O incrível é como desconsideramos os nossos valores, o que realmente queremos, optando por um embate mortal quando existem diferenças numa relação, ao invés de acreditar nos sinais, em nossa intuição e principalmente nos fatos.

Amor é amor, e a pessoas não precisam estar juntas para senti-lo. Relacionamento é diferente, pois se faz necessária uma convivência harmônica para que ele possa fluir e tornar as pessoas felizes.

Se um é conservador, e o outro liberal, obviamente, terão sérias dificuldades de se relacionar. Isto não significa que não se amem, mas conviver e construir algo juntos será algo bastante dificil.

Sabemos disso, por que desconsideramos e insistimos no que está fadado ao fracasso? Pela vaidade e competição em fazer prevalecer nossos valores.

Mas lá, no olho do furacão, na troca de ofensas há sempre um responsável por aquele fracasso momentâneo. Alguém para ser acusado pela dor e tristeza que "está causando".

Não existem culpados ou errados num relacionamento, exceto nos casos de traição. Cada um tem não só o direito, mas o dever de viver de acordo com suas convicções, com as coisas que lhe fazem bem, e a pessoas que as aprazam.

Se isso nos incomoda a ponto de não suportarmos, devemos chamar o garçom, pedir a conta e seguir nosso caminho, respeitando as diferenças. É difícil esta postura, mas a cada convivência temos de aprender e não retroceder. O tal princípio básico da evolução humana.

Assumir papéis que não sabemos ou não conseguiremos desempenhar, nos levará a perda de equilíbrio, e raramente conseguimos viver num mundo que não nos pertence.

E as brigas, ofensas e discussões fortes nada acrescentará. Antes pelo contrário! Somente denegrirão e desvalorizarão o que foi vivido e realizado junto.

Tudo tem um fim, e é muito melhor um final horroroso, do que um horror sem fim.

Pensar se faz necessário.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Dos ficantes aos namoridos


Se você é deste século, já sabe que há duas tribos que definem o que é um relacionamento moderno.

Uma é a tribo dos ficantes. O ficante é o cara que te namora por duas horas numa festa, se não tiver se inscrito no campeonato “Quem pega mais numa única noite”, quando então ele será seu ficante por bem menos tempo — dois minutos — e irá à procura de outra para bater o próprio recorde. É natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... Esquece, não acho natural coisa nenhuma. Considero um desperdício de energia.

Pegar sete caras. Pegar nove “mina”. A gente está falando de quê, de catadores de lixo? Pegar, pega-se uma caneta, um táxi, uma gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegueeuse, pegue-e-chute, pegue-e-conte-para-os-amigos.

Pegar, cá pra nós, é um verbo meio cafajeste. Em vez de pegar, poderíamos adotar algum outro verbo menos frio. Porque, quando duas bocas se unem, nada é assim tão frio, na maioria das vezes esse “não estou nem aí” é jogo de cena. Vão todos para a balada fingindo que deixaram o coração em casa, mas deixaram nada. Deixaram a personalidade em casa, isso sim.

No entanto, quem pode contra o avanço (???) dos costumes e contra a vulgarização do vocabulário? Falando nisso, a segunda tribo a que me referia é a dos namoridos, a palavra mais medonha que já inventaram. Trata-se de um homem híbrido, transgênico.

Em tese, ele vale mais do que um namorado e menos que um marido. Assim que a relação começa, juntam-se os trapos e parte-se para um casamento informal, sem papel passado, sem compromisso de estabilidade, sem planos de uma velhice compartilhada — namoridos não foram escolhidos para serem parceiros de artrite, reumatismo e pressão alta, era só o que faltava.

Pois então. A idéia é boa e prática. Só que o índice de príncipes e princesas virando sapo é alta, não se evita o tédio conjugal (comum a qualquer tipo de acasalamento sob o mesmo teto) e pula-se uma etapa quentíssima, a melhor que há.

Trata-se do namoro, alguns já ouviram falar. É quando cada um mora na sua casa e tem rotinas distintas e poucos horários para se encontrar, e esse pouco ganha a importância de uma celebração.

Namoro é quando não se tem certeza absoluta de nada, a cada dia um segredo é revelado, brotam informações novas de onde menos se espera. De manhã, um silêncio inquietante. À tarde, um mal-entendido. À noite, um torpedo reconciliador e uma declaração de amor.

Namoro é teste, é amostra, é ensaio, e por isso a dedicação é intensa, a sedução é ininterrupta, os minutos são contados, os meses são comemorados, a vontade de surpreender não cessa — e é a única relação que dá o devido espaço para a saudade, que é fermento e afrodisíaco. Depois de passar os dias se vendo só de vez em quando, viajar para um fim de semana juntos vira o céu na Terra: nunca uma sexta-feira nasce tão aguardada, nunca uma segunda-feira é enfrentada com tanta leveza.

Namoro é como o disco “Sgt. Peppers”, dos Beatles: parece antigo e, no entanto, não há nada mais novo e revolucionário. O poeta Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é para sempre. É ele quem encerra esta crônica, dando-nos uma ordem para a vida: “Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante".

(Martha Medeiros)